tdah em adultos

A busca pela Avaliação Neuropsicológica como um exame complementar para o diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH) tem sido cada vez mais frequente no público adulto. Diversas pessoas entram em contato diariamente com as informações que estão disponíveis na internet e acabam por se identificar com esse quadro clínico, uma vez que se vêem enfrentando dificuldades para concentrar a atenção, principalmente em atividades complexas, pouco motivadoras ou naturalmente exaustivas.

Antes de adentrarmos no tópico do diagnóstico tardio, é importante definir de antemão que o TDAH é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento e, por isso, está invariavelmente relacionado a alterações no desenvolvimento do cérebro nos estágios pré-natal ou início do período pós-natal de um indivíduo. Essas alterações produzem dificuldades relacionadas à regulação das funções executivas, de modo que a pessoa com TDAH se torna mais facilmente distraída e têm comportamentos mais agitados e impulsivos em comparação com os seus pares.

Na primeira edição dessa Newsletter foi mencionado que os sintomas centrais ao TDAH – a saber, a desatenção, a impulsividade e a hiperatividade – são inespecíficos e estão frequentemente presentes em outros quadros clínicos psiquiátricos e/ou neurológicos. Porém, para além disso, é importante compreender que pessoas sem o diagnóstico de TDAH também podem enfrentar dificuldades para concentrar a atenção e se mostrar mais propensas à distração por diversos motivos que são de ordem ambiental e que, muitas vezes, possuem características transitórias. Alguns exemplos dessas condições são: 1) a presença de um padrão inadequado de sono, que pode ir desde a constatação de alterações que prejudicam a sua qualidade até a privação completa do sono; 2) a presença de um padrão de comportamento sedentário; 3) o uso de substâncias psicoativas (SUP’s); entre outros.

Desse modo, é compreensível dizer que o diagnóstico tardio do TDAH está sujeito a uma série de fatores confundidores que são inerentes à vida adulta e que podem contribuir para um efeito de falso positivo quando não são bem investigados ao longo do processo de avaliação clínica. Ainda é importante dizer que esses fatores confundidores não estão presentes apenas dentro dos consultórios de especialistas e em casos clínicos isolados. Na verdade, mesmo em estudos científicos longitudinais foram identificados achados que levaram muitos pesquisadores a acreditar em uma forma diferente de TDAH cujos sintomas e prejuízos funcionais teriam início na vida adulta. Essa variação do diagnóstico foi nomeada na literatura internacional de late-onset ADHD

Ainda há muitos aspectos em debate sobre essa variação do TDAH, porém estudos mais rigorosos e com metodologias de análise estatística mais robustas foram categóricos em afirmar que pelo menos 95% dos participantes foram excluídos da amostra de adultos diagnosticados com a variação tardia do TDAH após serem considerados fatores como o uso de SUP’s e a presença de outros transtornos mentais que melhor explicariam os sintomas. Então, após apresentado o cenário atual de controvérsias acerca do diagnóstico tardio de TDAH, permanece a questão: quais aspectos do histórico infantil são essenciais para o diagnóstico do TDAH em adultos? 

Até o presente momento, em que pouco se sabe sobre os aspectos genéticos ou de vulnerabilidade para estressores externos que poderiam desencadear o TDAH ao longo da vida adulta, se faz importante reiterar a recomendação para uma investigação clínica minuciosa da infância e da adolescência. A comprovação da existência de prejuízos decorrentes de um padrão de funcionamento desatento e/ou hiperativo em intensidade e frequência que sejam consideradas acima do esperado quando comparadas aos pares de mesma faixa etária é imperativa para o diagnóstico. Faz-se importante adicionar ainda que esses prejuízos precisam estar presentes nos diferentes âmbitos da vida de um indivíduo (acadêmico, doméstico e social) e durante o período do neurodesenvolvimento. 

Para além disso, ao avaliar um adulto com dificuldades na regulação da atenção é fundamental identificar a existência dos fatores confundidores na história clínica. Nesse sentido, determinar a ocorrência de um padrão de prejuízos que ocorre mesmo na ausência do uso das SUP’s, em períodos de remissão de outras psicopatologias que ocorrem em comorbidade ou na ausência de lesões encefálicas que melhor justifiquem a presença desses sintomas, se faz essencial para um diagnóstico tardio assertivo e bem fundamentado.

Vanessa de Almeida Signori

Psicóloga, especialista em Neuropsicologia

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